"Tudo o que não deres, perde-se!"
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Luanda 2008

 

*
«Amar é quase uma dor.
A minha cabeça pára para pensar sobre o projecto, sobre a missão, estar aqui.
O meu coração está já muito apertado de saudades e de receios. Estou aqui de corpo e alma mas já em contagem decrescente, com uma dor enorme pela partida, um nó na garganta que não sai. Mais uma vez vim, mais uma vez vou embora com regresso indeterminado a esta casa. “Achei que dessa vez ia ser mais fácil, achei que já estava treinada, mas não…parece que é mais difícil, cada vez mais”. Não me consigo despedir, não quero…nem que seja um até já. Dói demais não estar aqui, dói tanto estar longe.
Amar é uma dor. Esta felicidade pura é uma dádiva sim, mas paga-se um preço bem caro…angústia, saudade, raiva.
Amar é um deserto e seus temores. Receio do regresso, da distância, da saudade, receio de acordar e não ver a Ti, o Bruno, a Xana, a Telma e a Clau, receio de não continuar a descobri-los e de nos entregarmos, receio de não ter razões fortes para sorrir e para sofrer, receio de não voltar bem, de estar inquieta demais e querer voltar, receio de ainda ser um bichinho do mato sem correntes nem dono, receio de ser egoísta, receio de ser preguiçosa e de não me esforçar na entrega aos outros (seja em que lugar for), receio das memórias ocuparem um espaço grande demais.
 
“erma eu não ti gosto, eu ti adoro”. Também eu…nem imaginas o quanto. Nem imaginas como é bom estar aqui, nem imaginas como é bom este calor, este sentir que se é amado de forma desmedida e genuína. Nem imaginas como fico feliz por vos ver a crescer e como fico orgulhosa por ver o homem em que te tornaste, Gueló.
 
No centro tudo se vive, nada é fácil, tudo é intenso e se um dia parece tudo correr bem, no outro…tudo se desmorona…talvez daí venha a felicidade…da conquista, do caminho percorrido.
 
Agora, olhando para trás, vejo como tudo é perfeito…como só posso dar graças por estar aqui. Agradecer por cada uma das pessoas que me acompanha, agradecer por terem aparecido no meu caminho e por me apoiarem sempre, agradecer pelos sorrisos, abraços, segredos na noite, pelos gestos de bondade e amor, pelos exemplos de entrega, dedicação, luta e força, pelas conversas sinceras, pelas discussões, pelas histórias de vida, pelo estar e sentir…agradecer por saber onde pertenço…agradecer pelo amor sentido.
 
“Os ermãos são tipo Deus, né? Fazem sempre o bem.”
“Quem dera, meu querido. Se fôssemos só um bocadinho pequenino como ele já era bom.”
 
E Ele está tão presente, sempre. É palpável em cada abraço, em cada gargalhada, em cada olhar cúmplice, em cada silêncio nesta terra laranja.
 
Só-sei-vi-ver-se-for-por-vo-cê (tenho tanto medo que isto seja verdade, que exista uma reserva de amor que se pode “dar” e que, uma vez que se esgote, a entrega a outros acabe….outros que estão noutro lugar, mas um lugar tão merecedor de amor como este).
 
Sei que tenho de partir e sei que vou ficar bem em qualquer lugar, de qualquer jeito…tenho a certeza que sim. O problema é a inquietação de não querer estar bem, só bem. A inquietação de já se saber o que está do outro lado, a sabedoria de quem já conhece a vida vista daqui, a certeza de querer permanecer.
 
“Ermã, o teu coração tá a bater bem? Posso-te contar um segredo? Mas vê se não desmaia…Eu ti cuio bué!”
 
É isto que me faz ficar.”
 
E parece que alguns receios se concretizaram, talvez como uma profecia auto-concretizada.»

Sofia



*
«Procuro desde o início, o som das palavras, as definições claras, os termos certos mas só consigo encontrar fios emaranhados numa confusão trémula. Resisto por instantes ao raciocínio consciente, é tão bom voar ao som das emoções.
Reajo confusa e apreensiva aos primeiros passos da caminhada, o chão é escorregadio. Presto atenção (demasiada) a estrada que se vai aproximando e com vontade de a percorrer, escolho o melhor chão para pisar! Questiono-me sem resposta: “Qual é o melhor chão para pisar?”
O contraste desigual ofusca a vontade de ir mais longe, puxa-me constantemente para trás, o peso da verdade toma conta de mim, mas que realidade é esta? Que energia é esta, que tanto me faz sorrir como me aperta o coração?
Evoco a magia desta cidade, ainda atordoada com o som estridente do transito caótico, imagino os meninos de rua deitados no areal, o pesadelo misturado com a ofuscante marginal….a miséria misturada com o belo, que cidade de contrastes, que paradoxo flutuante. E pensar que este país podia ir tão além e no entanto fica-se por uns meros prédios e por uma marginal suja e sem vida! Mas ao mesmo tempo é tão bom ter tão pouco, é bonito e motivador sentir a força deste povo, a união e a esperança pela paz. 
Recordo os meus dias como se anunciasse a meteorologia, ás vezes a manha estava cheia de sol mas o dia acabava cinzento, carregado de nuvens, outras vezes o dia transformava-se em noite e a noite em dia! Foram tantas as variações, ás vezes de um segundo para outro….
Perdida no meio da confusão, sem nunca me sentir sozinha, agarro o silêncio das minhas palavras e através delas chego a pureza do ser humano. Como é que o mais feio e duro das coisas nos pode mostrar o que há de mais belo e puro?
A descoberta constante num cansaço emocional, carregado de interpretações sem nexo só entendidas quando partilhadas! É mesmo difícil crescer… No entanto tento não perder os sabor dos sentimentos, mesmo que estes não sejam tão agradáveis, afinal são eles que impelem a minha canoa.
Refugio-me na constante aprendizagem com o outro, é tão bom sentir-me realmente amada, mesmo que nada tenha feito para merecer esse amor tão sincero e puro. Ser amada incondicionalmente desde o primeiro segundo. Como é possível?... Sim aqui é possível. Meu Deus como posso estar a altura? É mesmo bom sentir-te aqui pertinho, obrigado!
Sentir todos os dias o calor de quem comigo caminha, descobrindo o melhor e o pior que cada um carrega, partilhando no desconhecido! É bom sentir a magia dos pequenos momentos e cada dia crescer com eles, obrigado ermãos do coração.
Batem os bombos da despedida, as lágrimas caem, os olhares cruzam-se mostrando o desespero da partida e a solidão de quem mais uma vez permanece no mesmo sítio.  
Com uma dificuldade extrema em encadear tudo o que senti até hoje, cito um pequeno parágrafo do meu diário:
“Escrevo sem palavras definidas, só por vergonha de ter um diário sem histórias para ler. No entanto as palavras não saem, refugio-me no silêncio, e é ai que por enquanto encontro paz. Preencho-te meu diário com o som, não das minhas palavras, mas com o som das palavras de quem para sempre ficara no meu coração.»
 
Ana Pires



*
Criei mil expectativas em torno desta missão, ouvi diferentes relatos, li diversos testemunhos e, de certa forma, tentava encontrar-me num deles... Depois tudo foi diferente, foi como desvendar um mundo que me era distante e que se revelava a cada segundo, a cada momento, e era tão difícil saber o que estava sentir, sentia-me confusa, sem saber como começar e, por vezes, tentava manipular as coisas à luz de um sonho que criei um dia...
Continuo a sonhar, mas em tempo presente, o que torna tudo ainda mais mágico, havendo lugar para surpresas, nem sempre boas, mas fazem-me crescer... E quando menos espero, dou por mim a amar aqueles que entraram no meu coração sem pedirem licença, depois torna-se viciante, as imagens surgem em breves instantes que deixam marca... De forma incontrolável dou por mim a pensar... Como podem estas crianças estarem assim perdidas por este mundo fora? As imagens continuam a invadir-me através de flashes, seguindo-se uma atrás da outra, desordenadamente... O berçario é angustiante... Bebés afastados do mundo isolados no seu berço em forma de grades, com momentos de revolta, batendo com a cabeça, como forma de vingança para a sua cama que é ao mesmo tempo lar e prisão... Os meus meninos do jardim, ansiando por um carinho e batendo-se, discutindo seriamente por um pouco de atenção. Que estranha sensação a de ser amado em troca de nada... Desde o primeiro dia no centro que senti isso. É como se caísse lá, e de forma quase enstantânea, já fosse tão importante para algumas destas crianças. Sinto um amor sem restrinções e não sei se a minha entrega será tão plena como a destas crianças. Não sei se sou capaz de amar desta forma, de abrir o meu coração de forma tão repentina e sincera ao mesmo tempo.
Meu Deus!  Até nos piores momentos, em que a terra parece desabar sinto-me grata por tudo o que aqui recebo, nesta Angola abençoada. Por mais suja que seja esta realidade quero continuar a lutar, a percorrer este caminho... Já me sinto em casa. Estou feliz por estar aqui!»
Telma

*
«Revendo breves momentos de missão que me fazem pensar e interrogar, “ porquê que estou aqui?” , “o quê que fiz?” e “ o que senti?”. Tento encontrar respostas para todas estas perguntas, mas é difícil com clareza porque no meu pensamento está um turbihão de idéias, sentimentos e emoções, que torna mais difícil dar uma resposta em concreto. Mas neste momento reflectindo um pouco sobre tudo o que fiz, e respondendo á primeira pergunta, estou aqui porque sempre tive este sonho de poder fazer missão e de dar sempre um pouco mais de mim aos outros, pensando sempre que sendo impossível mudar tudo, é sempre possível mudar alguma coisa, mesmo que seja apenas fazer uma criança sorrir, fazer-lhe companhia ou até mesmo, dar-lhe carinho de que ela tanto precisa. Existem muitas razões para eu estar aqui, mas a principal é o lema que sempre tentei seguir – “Sempre alerta para servir”, porque é no serviço que a base de toda esta missão que estou a realizar.
Muitas vezes penso na importância da minha presença aqui, e houve momentos em que fui egoísta porque só pensava em alcançar os meus objectivos e não pensava no que me trouxe até aqui que foram, estas crianças que posso agora ver a sorrir e a dizer “olá ermão bruno”, ou mesmo o capiqueno a falar calão e a dizer “ olá ermão tuntum”. Por isso, agora penso que existe muitas coisas que aconteceram em missão até ao momento, que me completam e que me prendem a estas crianças e se há bem pouco tempo dizia que não era saudosista e que ia deixar de pensar em tudo que aqui estou a viver, agora posso afirmar que estava bem enganado porque sinto que quando chegar a Portugal vou sentir a falta de todos os dias ver o sorriso, ouvir a voz e sentir o calor de todas estas crianças.
Existem momentos em que sou invadido por uma confusão, de tal forma que fico a pensar, “ porquê que elas têm de sofrer tanto?”, “ porquê que eu não posso ter uma varinha de condão para poder alterar as coisas, e fazer ver aos pais de muitas destas crianças que o seu filho é uma criança cheia de talentos e virtudes que também tem direito a ter um lar e a sentir o calor e carinho da sua família”. Esta revolta transforma-se em força de vontade e em esperança de que um dia as coisas irão sorrir para elas. Faz-me confusão, ouvir uma criança a dizer “ermão eu quero ser cientista” e saber que para isso existem muitos factores que não dependem dela, e que por isso, é um objectivo quase inalcansável para ela.
Agora, ao ver que muitas destas crianças muitas vezes com tão pouca coisa fazem maravilhas, dou muito mais valor às pequenas coisas e penso que para eu ser feliz basta por exemplo o Nzuzi dizer “o ermão Bruno conseguiu que a minha ferida fechasse”, ou então sentir o abraço apertado de cada uma delas, abraços estes, que me transmitem energia de tal forma que me sinto uma pessoa renovada e revitalizada. »
 
Bruno Gabriel
 

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